NATAL: Festa da Esperança


“Se eu quiser falar com Deus, tenho que ficar a sós, tenho que apagar a luz, Tenho que calar a voz, tenho que encontrar a paz, tenho que folgar os nós…”

(Gilberto Gil – Musica)

 

A letra inspiradora deste poeta dos nossos tempos que é Gilberto Gil nos recorda que para falar com Deus, precisamos cumprir alguns requisitos. Quando ficamos a sós para falar com Deus, e nos desvencilhamos de alguns nós que nos prendem, experimentamos verdadeiramente em nosso coração o nascimento de Cristo, quando o vivenciamos na vida não é possível permanecermos os mesmos. Quando ficamos de mãos vazias e o acolhemos na manjedoura do nosso coração somos capazes de realmente viver o NATAL.

Em Maria encontramos o modelo de mulher corajosa que nos oferece seu filho como vida nova, como esperança. Maria sabia como falar com Deus, Maria soube acolher em seu coração a boa nova da salvação antes de acolher em seu ventre. Quando calamos a voz e deixamos que Deus nos fale, nos tornamos capazes de subir ao céu, dando espaço a um Deus que se fez homem, assumiu a natureza humana, “esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens” (Fl 2,7), simplesmente para nos mostrar que já não estamos sozinhos, ELE é nossa esperança, nossa vida, Ele faz o caminho conosco.

Cristo quis caminhar conosco, assumiu a nossa natureza, humilhou-se, foi obediente ao Pai. Nós temos a missão de levar o acontecimento de Belém a todos que não conhecem a Cristo. Temos a certeza de que Cristo com seu nascimento nos indica o caminho até a Belém de hoje. Nosso querido Papa Francisco nos lembra de que: “Não nos é permitido ficar parados. Temos de ir ver o nosso Salvador, deitado numa manjedoura. Eis o motivo do júbilo e da alegria: este Menino «nasceu para nós», foi «dado a nós», como anuncia Isaías” (Homilia papa Francisco noite de natal/2015).

Refletir e buscar a “Belém de hoje”, procurar saber onde está nascendo Jesus hoje? Onde o encontramos e onde o podemos visitar? Como cristãos somos interpelados a viver como uma Igreja em saída, uma Igreja que vai até o seu povo e o abraça, estende a mão e caminha junto. O Papa Francisco nos convida a este espírito itinerante, buscar as periferias, buscar Jesus que nasce em todos os corações, especialmente lá aonde ninguém quer ir. “Deixemo-nos, interpelar e convocar nesta noite por Jesus, vamos confiadamente ter com Ele, a partir daquilo em que nos sentimos marginalizados, a partir dos nossos limites. Deixemo-nos tocar pela ternura que salva. Aproximemo-nos de Deus que Se faz próximo, detenhamo-nos a olhar o presépio” (Homilia Papa Natal/2016).

Em suas sábias palavras o Santo Padre nos convida a olhar a realidade com o olhar de DEUS. Sabendo que o novo não nasce do nada, não nasce sem esforço; o novo deixa suas raízes na história e o recebemos a partir da luta, do perdão e dos recomeços; o novo é tarefa nossa e o construímos em nosso cotidiano, através dos acontecimentos que marcam nossa história.

Com a encarnação do verbo em Maria, Deus fala ao seu povo através de seu próprio filho feito carne, como dom de salvação para o mundo, exatamente como fala em Hebreus, “havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo filho” (Hb 1,1).

A cada Natal, Deus nos fala através do nascimento de seu Filho, Deus nos mostra o quanto nos ama, o quanto nos quer em seu abraço, a ponto de assumir a nossa natureza e se fazer um de nós. Deus através de seu Filho Jesus Cristo nos ensina que o novo somente acontece na nossa história quando deixamos que esta história nos transforme.

Nosso mártir Dom Oscar Romero nos fala deste novo capaz de transformar, quando lembra que em Maria temos o grande modelo de quem traz para própria vida o compromisso de dar a vida em favor da vida, “a verdadeira homenagem que um cristão pode tributar a Maria é fazer como ela, o esforço de encarnar a vida de Deus nas vicissitudes de nossa história transitória.” (Dom Oscar Romero- El Salvador)

Tornar realidade o nascimento de Jesus todos os dias, fazer do Natal a festa da esperança deve ser um compromisso de todo cristão, porque cabe a nós sermos portadores desta esperança tornada realidade palpável no acontecimento de Belém. Como, mais uma vez nos interpela Dom Oscar Romero, se queremos tributar uma homenagem a Maria devemos seguir seu exemplo encarnando a vida de DEUS na nossa realidade hoje, uma realidade tão cheia de vicissitudes, desemprego, violência, mentiras, exploração e repetidas crises no âmbito econômico e politico. Encarnar a vida de Deus nestas realidades não é tarefa fácil, mas é a tarefa do cristão.

Finalizo esta reflexão, recordando mais uma vez as palavras da música de Gilberto Gil, ‘é preciso calar a voz’, fazer silêncio, ter as mãos vazias de tudo que nos afasta da esperança em Deus, e esperar em Deus é esperar com confiança, com dinamismo, com a certeza de que não estamos sozinhos, ele cuida de nós. Ele ‘desata os nós’ da nossa história, Ele se fez criança para nos devolver a esperança.

Que o Deus da esperança conceda a todos um Natal abençoado!

Feliz 2018!

Irmã Virginia Matias Homem – Superiora Provincial


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