Um exemplo e um estímulo


 

150 anos de fundação das Irmãs Franciscanas Alcantarinas

17 de março de 2020

Irmã  Illuminata  Malvone:  um  exemplo  e um estímulo

 

A memória dos justos sempre permanece e o valor daqueles que foram grandes aos olhos de Deus continua forte para aqueles que sobrevivem, apesar de o mundo nem sempre reconhece a verdadeira virtude. Irmã Illuminata Malvone foi o que diz a bíblia: a mulher forte. Desprezou tudo por amor a Deus e ao próximo. Essa renúncia começou quando teve que deixar San Pietro di Scafati, a cidade onde nascera em 15 de janeiro de 1900, para dedicar-se à vida religiosa. Nessa localidade, Assunta (seu nome de batismo) fizera a sua 1ª comunhão e completara o seu curso primário. Seus pais, Rafaelle Malvone e Rosa Mascia, saudosos mas felizes, viram-na partir para Castellammare de Stabia, onde aos 12 de junho de 1920, recebeu o hábito franciscano e passou a chamar-se Irmã Illuminata.

Trabalhou em diversas casas da Itália, seja como professora ou educadora até 1932, ano que partiu para o Brasil quando chegou o tempo da sua segunda grande renúncia : deixar a pátria e ir para o Brasil, país que amaria com todas as forças do seu coração e para o qual traria a semente da congregação das Irmãs Franciscanas Alcantarinas, pois viera com mais algumas companheiras da Itália: Madre Eugênia Catalano, Ir. Rosa Raiola, Ir.  Inês Nusca, Ir.  Josefina Verna, Ir.  Tarcísia Sgarro, Ir.  Irene Martini, Ir. Luíza Ciardulo, Ir.  Valentina Pepe, Ir. Stefanina Frassino, Ir. Justina de Zio e Ir. Maddalena de Cirilo. Trabalhou por 8 anos como enfermeira no hospital Gaffrè e Guile, no Rio de Janeiro.

Convidada por Dr.Alberto Woods Soares para dirigir o Hospital São Vicente de Paulo de Itabirito, Minas Gerais, chegou em 25 de agosto de 1940, levando consigo outras duas irmãs. Daí até a sua morte em 29 de novembro de 1970 não mais saiu de Itabirito, trabalhando incansavelmente pela cidade.

Em junho de 1950 colocou a pedra fundamental, no local onde serira construído o Orfanato Santo Antônio de Pádua, seu principal sonho quando deixou a sua pátria: construir uma casa para órfãos. Em 14 de agosto de 1966, o prédio do Instituto Santo Antônio de Pádua oficialmente inaugurado.

A vida dessa mulher forte foi um rosário infindo de trabalho e sofrimentos. Ainda em sua pátria presenciou a primeira grande guerra, lembrança triste que guardou por toda a sua vida. Depois, deixou pátria, família, conforto, para continuar, no Brasil, o seu calvário de amor. Indo para Itabirito, não encontrou quase nada que lhe facilitasse a grande missão a que se propunha. De positivo, só encontrou mesmo a amizade de algumas famílias.

A fase da construçao do Orfanato foi dificílima para as irmãs e também para ela; foi muito incompreendida, insultada e tida como ladra, pois chegaram a acusá-la injustamente de prejudicar o Hospital em favor do Orfanato. Aqueles que atiravam pedras esqueciam-se da pobreza e dificuldade que as irmãs viveram até a inauguração do Orfanato. A comunidade dormia com as portas escoradas com paus e tijolos, sem conforto, sem a mínima proteção. Mas Deus que vela por seus filhos e filhas deu-lhes forças para superarem as provações e lhe desmentiu as calúnias. Depois de deixar o Hospital dedicou-se exclusivamente ao Orfanato que progrediu rapidamente, não só na construção do prédio, como na assistência às órfãs.

Apesar das inúmeras dificuldades, Madre Illuminata nunca perdeu a confiança em Deus e, graças à sua fé e a colaboração das demais irmãs, conseguiu realizar milagres, como a construção do prédio do Instituto Santo Antônio de Pádua, incontestavelmente o mais bonito da cidade, funcionando perfeitamente com cursos desde a Educaçãop Infantil até a 3ª série do Ensino médio e, sobretudo, valendo como lar para as meninas que não o tinham. Para a realização de sua obra contou também com o apoio de vários amigos como o sr. José Luís dos Reis, Pe. Marcelino Braglia, Dr. Pedro Aleixo, Dom Oscar de Oliveira e muitos outros.

A sua grande força porém, estava na oração. Oração fervorosa e perseverante a que se dava em todas as horas do dia, desde às 3:30h da manhã, quando se levantava; oração que lhe tomava o pensamento mesmo enquanto trabalhava, pois estava sempre dizendo alguma jaculatória ou invocando os seus santos preferidos.

“O terço era seu companheiro inseparável. Não o largava nem quando escrevia cartas pedindo donativos e que, segundo afirmação sua, ajudaram a construir o Instituto. Atribuía o seu sucesso ao Rosário de Nossa Senhora de Pompéia ao qual dedicava filial devoção. Outra de suas grandes devoções era o exercício da Via sacra que, constantemente, praticava com piedade edificante.

Grande educadora, sabia aliar a energia ao carinho; se sabia perdoar a quem errava, jamais deixava impune o erro. Se era de uma franqueza admirável, às vezes quase rude, sabia aplicá-la no momento certo. E, para os mais humildes ou para os seus bons amigos, a Madre Illuminata tinha sempre um diminutivo doce e afetuoso.

Trabalhou sempre no anonimato beneficente, mas escondida; forte, mas humilde. Dedicou toda a sua vida a Deus e ao próximo, uma alma santa, exemplo vivo de caridade, de espírito de abnegação e de sacrifício, de oração, e ardente zelo pela observância e pelo bem das almas”. (Da “Gazeta di Itabirito” – março 1975)

Como excelente cronisca que era, não podemos deixar passar um pedaço do diário de chegada ao Brasil escrito de próprio punho por irmã Illuminata Malvone:

Dia 30 de julho de 1932

Nossas irmãs, na ponte do navio, observam atentamente a terra que se aproxima mais e mais. Estão ansiosas por conhecer a nova pátria.

Finalmente… chega a desejada Aurora… depois de feitas todas as nossas orações, escutando a Santa missa e recebendo Jesus Hóstia, estamos prontas. Todas contemplamos o magnifico espetáculo. Qual beleza!  O mar calmíssimo, ligeiramente e artisticamente encrespado. À direita do navio está a costa brasileira, pertinho, de modo que se  pode distinguir as maravilhosas praias,às quais os raios do sol nascente dão os tons dourados, um “ornato poético” com os  montes que mergulham. São dez horas… olhando sempre em direção do Rio, entre montes numerosos, observo um mais alto, e sobre o ponto mais alto, uma enorme estátua branca. Não sei descrever o que sinto, e irrompo num grito… Eis  a estátua de Jesus Cristo Redentor! À medida em que o navio se aproxima  toma o aspecto de uma cruz, finalmente ei-lo…o Cristo Redentor, de braços abertos num gesto de hospitaleira acolhida. “Parece querer abraçar-nos… são emoções que somente quem deixa a pátria pode experimentar. Com o coração apertado não podemos senão dirigir-nos a este Divino Rei e dizer-lhe:

O Jesus, com teus braços abertos, acolhe-nos como Pai e esposo. Com tua graça vencemos os afetos… Somos uma só pessoa contigo. Foste Tu que venceste esta causa tão bela pelo caro Instituto, portantoreina e triunfa, abençoando este árduo empreendimento! Amém.’

Deslizando pelas águas tranquilas da Baía de Guanabara vai o Campana em direção ao porto. Eis que surge ante os olhos maravilhados de todos, a belíssima paisagem carioca circundada pelas elevações da Serra dos Órgãos. De um lado o “Dedo de Deus”, a apontar o céu e, do outro, o Cristo Redentor, de braços estendidos num gesto de hospitaleira acolhida”.

 

Momento de oração nas fraternidades:


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