Viver a quaresma em tempos de pandemia


Quaresma tempo favorável para viver a proximidade, a compaixão e a ternura que são estilo de Deus, para dar sentido de fé e esperança a esta crise pela qual estamos passando revelada pela pandemia” .

(Papa Francisco)

A partir desta frase do Papa Francisco convido cada um de vocês, neste tempo favorável para conversão, que é o período da quaresma a viver de forma mais intensa estes valores evidenciados pelo nosso querido Papa. Fazer com que a proximidade, a compaixão e a ternura se tornem gestos concretos nas nossas relações fraternas.

O mundo clama e tem sede de boas relações, a cada dia comprovamos sinais de que vivemos numa Sociedade doente e egoísta, que exclui o diferente, que descarta os mais pobres, aqueles que não favorecem o mercado. Diante desta realidade nos serve a estória que São Francisco conta sobre o Lobo de Gubbio, querendo que entendêssemos o que significa a PAZ, a tolerância, e o diálogo com o diferente.

São Francisco conta a estória de um lobo que aterrorizava uma cidade, por que era mal, devorava as pessoas, e andava pelas ruas levando o medo e a tristeza. A proposta de Francisco não foi matar o lobo, e não foi pedir as pessoas para se fecharem nas casas amedrontadas. Francisco propôs um pacto de paz entre as pessoas da cidade e o Lobo. Para isso era necessário dialogar com o Lobo e dizer que quem estava fazendo o mal era ele, ele deveria se converter e mudar de vida. As pessoas da cidade, por sua vez, deveriam alimentar o lobo e não o tratar mal. (Cfr. Fioretti 21)

Os lobos de Gubbio, continuam soltos neste mundo, e nossa missão é promover a paz e o diálogo entre estes novos lobos e aqueles que sofrem aterrorizados com as suas maldades. É preciso mostrar a estes lobos que eles estão errados e devem se converter. O LOBO hoje tem tantas vestes, tantos nomes e formas, pode ser o mercado consumista que devora os mais pobres, pode ser o modo desonesto de se fazer política, pode ser aquele que exerce autoridade com autoritarismo prejudicando o outro, ou aquele que comete as mais diversas formas de abuso.

É nossa missão, como consagradas Franciscanas e Alcantarinas, fazermos como São Francisco e nos colocarmos entre o LOBO feroz e a gente da cidade que não sabe como agir diante do lobo, que tem medo e se esconde ou que o ataca. É preciso saber promover o diálogo e a paz. Como nos orienta o Papa Francisco é preciso saber assumir o estilo de Deus através da proximidade, da compaixão e da ternura. Sobretudo é preciso que “não deixemos que nos roubem a esperança”.

A mensagem do lobo de Gubbio vem de encontro com o tema da Campanha da Fraternidade deste ano, que é justamente promover o diálogo e criar pontes de unidade. Com o tema:Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor” e o lema “Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade.” A Igreja no Brasil juntamente com o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC) nos convida a refletir sobre o Ecumenismo, sobre o diálogo, e como este deve ser cultivado para que se torne um espaço de reflexão e oração. O diálogo é um caminho para superação de crises, para quebrar os muros que nos separam daqueles que devemos chamar de irmãos.

Neste momento difícil na história, vivendo os desafios da pandemia, muitos estão falando de um ‘novo normal’, ou ‘um novo futuro’, realidades que vão surgir brotados da pandemia. Sim certamente nosso futuro será diferente, o que era normal antes da pandemia talvez demore um tempo para voltar, um novo futuro virá trazendo tempos difíceis para economia e para as relações, mas este novo futuro também trará relações mais solidárias, pessoas mais altruístas, famílias mais unidas, jovens e adultos capazes de se reinventar diante das dificuldades, pessoas capazes de escancarar portas que antes estavam fechadas e uma nova janela para o diálogo poderá surgir.

Mas para que se instaure de fato um novo futuro e que relações mais fraternas aconteçam, onde o diálogo será a palavra que fará a diferença, precisamos CULTIVAR a misericórdia, a compaixão, a esperança, a proximidade e a ternura.

Recordando como nos disse o Papa Francisco que a “Misericórdia é o ato último e supremo pelo qual Deus vem ao nosso encontro. Misericórdia: é a lei fundamental que mora no coração de cada pessoa, quando vê com olhos sinceros o irmão que encontra no caminho da vida”. Muitas vezes não nos damos conta do irmão que está do nosso lado e precisa da nossa ajuda, nos tornamos insensíveis à dor do outro, por que não temos tempo de parar para ouvi-lo, ou para estender a mão.

A pandemia veio nos lembrar que o tempo já não funciona da forma como existia antes, foi necessário todos pararem para percebermos que o tempo não corria da mesma forma.  O isolamento social nos mostrou que não somos donos do tempo, que o tempo pertence a Deus, e que nosso tempo muitas vezes não é o tempo de Deus.

E por falar em tempo, finalizo esta reflexão recordando as palavras do Papa Francisco em sua homilia do primeiro domingo da quaresma, na praça São Pedro no momento do ANGELUS. O Papa exortou a todos a necessidade de ver este tempo da quaresma como um chamado do Espirito Santo a entrar no deserto, “pensemos no deserto como lugar onde Deus fala ao coração do homem, onde brota a resposta da oração. O deserto da solidão, do coração longe de outras coisas e na solidão se abre a palavra de Deus, mas é também o lugar da provação e da tentação, onde o tentador aproveitando da fragilidade do homem, seduz, insinua sua voz mentirosa, que faz ver um outro caminho, um caminho de engano.  Não devemos ter medo do deserto, percorrer os caminhos de Deus renovando as promessas do nosso batismo, renunciando ao mal”.

Iluminados por esta exortação do Papa Francisco caminhemos pelo silêncio do deserto sem medo, experimentemos nesta quaresma espaços de deserto dentro do nosso coração, dando lugar e tempo para oração. E no diálogo com Deus nos fortalecemos para o diálogo com o irmão.

Boa continuação de QUARESMA em tempos de pandemia, mas sobretudo em tempos de proximidade, compaixão, esperança e ternura. INSISTO: “não deixem que lhes roubem a esperança” (Papa Francisco- Jornada Mundial da Juventude 2013).

Fraternalmente,

Ir. Virginia Matias Homem – Custódia Provincial


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