Estigmas e Fundação do Instituto: Coincidência ou compromisso?


FRANCISCO NA CRUZESTIGMAS E FUNDAÇÃO DO INSTITUTO:

Coincidência ou compromisso?

 

No dia 17 de setembro, nós, Irmãs Franciscanas Alcantarinas, comemoramos dois importantes acontecimentos: Festa dos Estigmas de São Francisco de Assis (1224) e o aniversário de Fundação da Congregação (1870).

 

  1. Estigmas: que são?

 

Os estigmas são chagas que algumas pessoas trazem em seu corpo. Deus concede a tais pessoas a graça de participarem corporalmente da Paixão de Cristo, atendendo assim a um anseio das mesmas, desejosas de se configurar ao Senhor Jesus; nessas pessoas a graça de Deus serve-se de seu coração de sua personalidade particularmente sensível para imprimir os sinais da Paixão de Cristo.

Dos muitos casos de pessoas estigmatizadas que se conhecem – e Francisco de Assis foi o primeiro a recebê-lo e permanecer chagado depois de morto – pode-se dizer que são autenticamente graças extraordinárias concedidas pelo Senhor quando vêm a ser uma modalidade de participação na Paixão de Cristo decorrente de intensa devoção a essa Paixão.

Têm por finalidade santificar a pessoa estigmatizada por mais íntima união a Jesus Crucificado como também contribuir para a Redenção do mundo no sentido das palavras de São Paulo: “Completo em minha carne o que falta à Paixão de Cristo em prol do seu Corpo, que é a Igreja” (Cl 1,24).

 

1.1. Os estigmas em São Francisco de Assis

 

Os estigmas remetem à Paixão e Morte de Cristo. Por exemplo, São Francisco de Assis recebeu os estigmas quando todos os seus planos santos – fundação da ordem, aprovação da regra primitiva, viagem à Palestina – falharam. Ele estava só e abandonado. Foi consolado por ser identificado com o Crucificado, e ainda, simultaneamente, o sofrimento dos estigmas se tornou um bem para a ordem e uma mensagem para toda a Igreja.

Segundo nos relata as Fontes Franciscanas, dois anos antes de sua morte, tendo Francisco ido ao Monte Alverne em companhia de alguns de seus frades mais íntimos a fim de se dedicar ainda mais à oração e ao jejum, pôs-se em oração fervorosa e foi objeto de uma graça extraordinária. Inundado do amor de Deus, Francisco desejou ser crucificado como Cristo, orando dessa forma: “Ó Senhor, meu Jesus Cristo, duas graças eu te peço que me faças antes de eu morrer: a primeira é que, em vida, eu sinta na alma e no corpo, tanto quanto possível aquelas dores que tu, doce Jesus, suportaste na hora da tua dolorosa Paixão. A segunda, é que eu sinta, no meu coração, tanto quanto possível, aquele excessivo amor, do qual tu, Filho de Deus, estavas inflamado, para voluntariamente suportar uma tal paixão por nós pecadores” (3ª Cons. Estigmas, 38).

Estava próximo da festa da Exaltação da Santa Cruz e eis que de repente Francisco teve a visão de um Serafim, sobre o qual brilhava o Crucificado. Quando a imagem desapareceu, Francisco sentiu “o coração arder de amor, enquanto na sua carne estavam impressos os sinais da Paixão do Senhor; apareceram nas suas mãos e nos seus pés as marcas dos cravos: além disto, trazia no costado uma fenda como se tivesse sido atingido por uma lança; a túnica e o calção do santo se achavam manchados de sangue. É Tomás de Celano, o biógrafo mais famoso de Francisco, quem o narra o episódio em “Vida I, Parte II, Cap. III”. São Boaventura oferece relato semelhante em “Legenda Maior, cap. XIII”.

Quando o Serafim desapareceu, Francisco estava repleto do mais inefável ardor e em seu corpo havia a impressão das cinco Chagas de Jesus. Suas mãos, pés e lado estavam chagados.

Tal aparição fez com que Francisco ficasse fora de si, enquanto que no seu coração sentia um profundo amor e uma imensa dor: o profundo amor que Deus tem para conosco e a profunda dor da Paixão e dos sofrimentos que o ser humano Lhe causa. Sua admiração era grande diante de semelhante visão. Assim, esse apaixonado  discípulo do Crucificado, que tanto desejara assemelhar-se a Ele, obteve mais este traço de identificação com o Amado.Então entendeu que esta aparição tinha acontecido para que compreendesse que deveria se transformar em um outro Cristo.

 

  1. Aniversário de Fundação do Instituto

 

A Congregação das Irmãs Franciscanas Alcantarinas foi fundada por Padre Vincenzo Gargiulo e Maria Luiza Russo, em 17 de setembro de 1870. Nasceu da necessidade de um povo e da doação de um grupo de jovens disponíveis que disseram “SIM” à Vontade de Deus e à desafiadora missão expressa na sofrida realidade social de Castellammare di Stabia, Itália.

Por intuição e sensibilidade desse grupo de jovens, a identidade espiritual como a apostólica origina-se do Mistério da morte e ressurreição de Jesus Cristo e dele se nutre continuamente, seguindo a espiritualidade de São Francisco de Assis e de São Pedro de Alcântara que encontraram Cristo e este encontro mudou profundamente a suas vidas.

Com o mesmo desejo e empenho fundacional, que persiste há 138 anos, nos empenhamos a fazer que cada jovem, cada pessoa, conheça o fim principal para o qual Deus o criou, isto é, a própria vocação e dar a eles o quanto possível, os meios necessários para atingi-lo.

 

  1. Coincidência comprometedora com TODOS os crucificados

 

sanfrancesco-crucificado1[1]Tanto o evento dos estigmas, como a Fundação da Congregação, por coincidência Divina, aponta na direção do Cristo Crucificado, desde as suas origens.

Em primeiro lugar, Francisco se encontrou com um crucificado histórico concreto: em 1204, deu um beijo no leproso (Cf. Testamento 1-3), o excluído dos excluídos. Antes mesmo do acontecimento dos estigmas (1224), localizamos na vida de São Francisco episódio de 1206: ele se encontra com o crucificado na Igreja de São Damião (Cf. LTC 13) e lá é estigmatizado no coração. Portanto, a vida de conversão dele foi marcada pelo estigma da cruz do começo ao fim, tornando-se um apaixonado por Cristo e pela humanidade.

Pela experiência de Francisco, seguir as pegadas do Crucificado é um dos elementos essenciais do franciscanismo e, por intuição carismática, das Irmãs Franciscanas Alcantarinas, uma vez que entrar na vida franciscana é entrar na melhor escola para a prender o seguimento de Cristo e Cristo crucificado e o “seu santo modo de operar”.

O amor de Francisco de Assis pelos crucificados e excluídos era tão grande que, no fim de sua vida terrena já, quase cego e muito doente, quis servir aos leprosos como no início, em 1204. Para isso, andava num jumentinho, porque já não conseguia andar a pé como antes. Por tais atitudes, antes de morrer, lançou o desafio aos frades de ontem e de hoje: “Irmãos, recomecemos, pois nada ou pouco fizemos até agora” (1 Cel 103,6).

Segundo tão bem sintetiza Frei Régis Daher, em seu texto “A Centralidade de Cristo na Vida de São Francisco de Assis”, publicado na Web http://www.franciscanos.org.br/noticias/noticias_especiais/francisco_05/15.php :

Embora, ninguém pode acrescentar algum valor à Paixão de Cristo, podemos dar a essa Paixão a moldura própria da nossa identidade, podemos estendê-la ao seu respectivo “aqui e agora” em favor dos irmãos crucificados de hoje ou numa atitude co-redentora, com o mesmo ardor do Estigmatizado de Assis.

Agindo assim, os acontecimentos dos “Estigmas” e do “Aniversário de Fundação do Instituto”, muito mais que uma agradável coincidência, passa a ser um desafiador compromisso de toda Franciscana Alcantarina.

 

 

 

MARAIrmã Mara Claudete Patan

é franciscana alcantarina, Teóloga e

Pedagoga

 


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