Segundo o coração de Deus


 “Senhor fazei-me pessoa segundo o vosso coração”

(São Pedro de Alcântara)

img12O Homem segundo o coração de Deus é Intrépido, corajoso, misericordioso, a confiança é sua maior arma, por que ele crê que a capacidade que tem não vem dele, mas do Senhor. “Não é por força própria que somos capazes de pensar alguma coisa, nossa capacidade vem de Deus.”(2Cor 3,5).

Quando nos entregamos com confiança nas mãos de Deus, descobrimos que só no coração de Cristo vamos encontrar alento e descanso em meio às dificuldades com as quais nos deparamos quando não nos voltamos para Deus.

Deus, sempre muito consciente das nossas fraquezas, anuncia por boca do profeta Ezequiel, o dom de um coração novo, por obra do seu Espírito, como sinal e antecipação dos tempos novos da salvação: “Dar-vos-ei um coração novo e porei dentro de vós um Espírito novo” (Ez 36,26). Esta promessa e esta certeza nos asseguram um coração novo, semelhante ao coração de Deus, um coração mais humano e humanizado, capaz de perdoar e acolher o perdão, capaz de reconhecer os próprios erros e limitações e colocar-se no coração de Deus para “recomeçar” para acolher o Espírito novo que Deus sopra dentro de nós.

Cristo se coloca como modelo a seguir e a imitar – “Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração” (Mt 11,29) – numa clara referência às bem-aventuranças, que descrevem o ideal da vida humana a partir do íntimo, do seu coração (Mt 5,3-12). É a partir desta sua humanidade, como Emanuel (Deus conosco), que Jesus se torna, ao mesmo tempo, revelação do amor de Deus e modelo que se pode imitar, caminho possível para todo o homem e mulher deste mundo. (Como nos lembra Padre Joaozinho, SCJ, em uma de suas entrevistas)

O desejo de um coração segundo o coração de Deus passa pelo “caminho do coração” passa através do Coração de Cristo, “caminho, verdade e vida” (Jo 14,6). Viver, pensar e agir segundo o seu coração é dom que nos vem do Espírito. Por outro lado, o homem velho, ou primeiro Adão, continua bem presente na existência daqueles que se puseram em caminho, bem como na mentalidade dominante da sociedade em que vivemos. Daí a exigência de uma constante escuta do Espírito que cura, reconcilia, educa e guia o coração.

Pensando na passagem dos discípulos de Emaús, percebemos que ao longo do caminho, os dois discípulos, guiados pelo misterioso companheiro de viagem, confrontaram a palavra dos profetas e de Jesus com a sua própria vida. Depois, ao anoitecer, reconheceram-n’O no partir o pão, quando se sentou à mesa com eles. Eles  o reconheceram no gesto simples de partir o pão, na partilha, no estar ao lado, sentir o coração. É desta mesma forma que seremos reconhecidos pelos nossos irmãos, nos gestos simples de partilha, de acolhida, de solidariedade. E, quando errarmos saberão nos perdoar, por que conhecem nosso coração.
Um coração aberto aos outros, este é o caminho seguro para se ter um coração segundo o coração de Cristo, o caminho do coração deve passar pela abertura ao outro, nosso irmão. Criar laços de fé, livres das  limitações do egoísmo e das amarras das feridas e ressentimentos, capazes de relações fraternas, marcadas pela verdade, justiça, misericórdia, amor.

img15A configuração do coração com Cristo, numa dimensão extremamente fraterna, como aquela sonhada por São Francisco, exige uma constante conversão e reconciliação, de modo que cada um possa fazer, nas relações com os outros, a experiência de oferecer e receber o amor de Cristo, traduzido em gestos concretos de acolhimento, perdão, colaboração fraterna e esperança.

Para São Francisco, o coração de quem segue a Cristo deve ser um coração itinerante, sem morada permanente, uma seta que indica todas as estradas da humanidade, próximas e distantes, acolhendo os esquecidos, curando as feridas, reconciliando os conflitos, espalhando a esperança e anunciando a presença de Deus na vida e na história dos homens.

A lógica do coração de Cristo é a lógica do Bom Pastor, que organiza o próprio rebanho e quer ir buscar as ovelhas que estão fora (Jo 10,16), que perde o tempo com uma única que se perdeu e necessita de cuidados especiais (Lc 15,4-7) e que, por todas, oferece a própria vida.

A parábola do bom samaritano (Lc 10-29-37) nos indica o que verdadeiramente é seguir o caminho do coração. Um coração que escuta a dor do irmão e se coloca a serviço. Um coração capaz de se compadecer, de cuidar das feridas, de ouvir o coração do irmão e sentir-lhe a dor.

img14Finalizo esta reflexão com as palavras do nosso querido e saudoso Papa João Paulo II, este homem que teve um coração segundo o coração de Deus. Que soube se colocar como pastor e, ao mesmo tempo, como bom samaritano.

“Junto do Coração de Cristo o coração do homem aprende a conhecer o sentido verdadeiro e único de sua vida e de seu destino, a compreender o valor de uma vida autenticamente cristã, a se preservar de certas perversões do coração humano, a unir o amor filial para com Deus ao amor do próximo… é no Coração de Cristo que o homem recebe a capacidade de amar.” (Papa João Paulo II).

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irvirginia*Irmã Virgínia Matias Homem é

franciscana alcantarina,

psicóloga, formadora do juniorato e

Conselheira Provincia


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