A Espiritualidade em Padre Vicente Gargiulo – (1834-1895)


gargiulo Fundador das Irmãs Franciscanas Alcantarinas

“E porque o Espírito de Jesus Cristo é espírito de doçura, de humildade, de abnegação e de mortificação, as Irmãs devem, com todo empenho trabalhar para adquiri-lo seja com o contínuo e nunca interrompido exercício dos atos de virtude correspondente, seja com a meditação cotidiana, especialmente sobre a Paixão de Jesus Cristo Nosso Senhor; como diz nosso Pai São Pedro de Alcântara, não se pode encontrar outro tesouro tão rico e tão pleno de bens.”

(Art.4 Const. 1874)

Diante deste artigo das constituições escritas pelo nosso fundador o padre Vicente Gargiulo, é possível perceber a profundidade e o alto grau de intimidade orante que este homem tinha com Deus. O centro do coração e do pensamento, do ser e do agir de padre Vicente é nosso Senhor Jesus Cristo.

É transparente a espiritualidade da cruz em Don Vicente. Demonstra sua vida ser ele uma pessoa de profunda vida de oração e igualmente de grande capacidade de ação em favor de seu povo, com atenção especial pelos pequenos, fracos e marginalizados. Em meio a um vasto campo de apostolado e de grandes necessidades e miséria,  Pe. Vicente tinha como principio não deixar seu tempo de encontro pessoal com Cristo, onde encontrava a fonte motora para sua ação e é isto que ele recomenda às suas filhas.

Pe. Vicente alimentava sua vida espiritual com uma fortíssima devoção a Maria. Ele tinha o coração inflamado pela piedade franciscana, a  qual o levou a dispor Maria como Madre Geral de suas filhas e a elegeu como a Mãe Especialíssima do instituto.

Sustentava também a espiritualidade Pe. Vicente, o espírito de mortificação, de sacrifício, de abnegação e de abandono nas mãos da divina providência. A tudo isto ele dava carne dentro da realidade sofrida do seu povo e dizia que cada Irmã Alcantarina “deverá ser pobre e humilde por amor, trabalhadora e apóstola por amor.”

Um coração que ama de verdade, não consegue, após contemplar uma realidade desumana na qual vivem tantos irmãos, permanecer ileso, insensível e prosseguir seu caminho com Deus. Não, ele aceita despedaçar-se e ser repartido entre cada irmão necessitado, porque tem consciência de que é o próprio Jesus Cristo que ali quer necessitar dele para fazer acontecer o reino de Deus. O coração que ama segue por um determinado caminho, mas pulsa pelo mundo inteiro. Conhecendo a realidade que nos cerca, fazemos dela objeto de nossa oração, de nosso encontro com o pai e partimos para a ação que transforma, mesmo que seja apenas parte dela, importa não cruzar os braços mas abri-los, ainda que abracemos apenas um pouco, porém, este pouco é uma parcela a menos a sofrer, e uma força a mais para lutar e agir em favor dos irmãos.

Pe. Vicente, contemplando a realidade sofrida do seu povo, reage vigorosamente com sede de libertá-los e promovê-los. Ele emprega toda sua energia vital e se arma de todos os recursos de que se dispunha para que suas ovelhas pudessem provar da água da vida. Foi um homem de oração e de ação e sempre insistiu com suas filhas na síntese da oração. Na concepção dele, a Irmã Alcantarina não é uma Marta “atarefada com o muito serviço,” que deixa a parte  contemplativa de Maria para às monjas enclausuradas, mas é uma pessoa “consagrada” a Deus para o bem dos irmãos que sintetiza as duas dimensões: a vida de Maria nos amplos espaços reservados à oração, e a vida de Maria pela dedicação ao postulado.

Pe. Vicente  compreendeu, com a vida, que para estar unido a Deus é preciso primeiramente unir-se à vida e à luta dos irmãos. Ele, como pastor, filho de Castellammare, era conhecedor  da pobreza, da miséria material, moral e espiritual dos irmãos, como fruto das tensões e desequilíbrio sociais e econômicos. Começando pela oração, empreendeu uma  investigação sistemática sobre a realidade humana e social da sua paróquia e se lançou na luta, buscando promover a pessoa  toda,  fosse homem ou mulher, criança, jovem, adulto ou idoso. Diariamente  visitava os enfermos, as pessoas solitárias, as ovelhas mais necessitada de seu rebanho. Revelou-se um  autêntico discípulo do senhor.

Pe. Vicente não tomava nenhuma iniciativa ou decisão  sem antes  prostrar-se em oração de profundo diálogo com o senhor. Esta é a verdadeira espiritualidade: uma vida de oração que se transforma em ação, uma ação  que se perpassa pela oração. Podemos afirmar que Pe. Vicente viveu o que ele recomendou às suas filhas, guiado pelo pensamento de S. Pedro de Alcântara: “se quiseres suportar  com paciência  as adversidades e as  misérias desta vida, sê homem  de oração. Se quiseres conseguir virtudes e forças para vencer as tentações do inimigo, sê homem de oração. Se quiseres mortificar tua vontade com todas as suas paixões e desejos, sê homem de oração. Sê quiseres sustentar tua alma com a plenitude da devoção e tê-la sempre cheia de bons pensamentos e desejos, sê homem de oração. Se quiseres fortificar e consolidar teu coração no caminho de Deus, sê homem de oração. Enfim, se quiseres erradicar de tua alma todos os vícios e lá plantar as virtudes, sê homem de oração, pois pela oração recebe-se a unção e a  graça do Espírito Santo que tudo ensina.”


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