Ano Jubilar do Instituto


1870 – 150 anos – 2020

 

Neste dia 17 de setembro de 2019, festa dos Estigmas de Francisco e aniversário de Fundação do nosso Instituto – Irmãs Franciscanas Alcantarinas, temos a alegria de abrir com solenidade o ANO JUBILAR em preparação aos 150 anos de fundação.

No dia 15, último passado, em Castellammare di Stabia, Itália, na Paróquia aonde deu início o Instituto, na celebração de abertura, Sr. Ester Pinca, Custódia Maior abriu este ano Jubilar na Presença de um grande número de irmãs.

 

 

Segue as palavras proferidas e que em todas as comunidades das diferentes realidades que somos presença, está sendo lida no dia de hoje:

 

ABERTURA DO ANO DE PREPARAÇÃO PARA OS 150 ANOS DE FUNDAÇÃO DO INSTITUTO

Castellammare di Stabia, 15/17 de setembro de 2019

Caríssimas irmãs e todos que vieram neste lugar cheio de graça, o Senhor nos dê a Sua Paz!

Meu coração está repleto de alegria por tudo que o Senhor nos dá a graça de viver hoje: o início  do ano de preparação para a celebração dos 150 anos de Fundação do nosso Instituto!

Sabemos bem que não é um evento como tantos outros! Trata-se de celebrar a certeza de que Deus não nos abandonou até hoje, nestes 149 anos, cobrindo-nos com a graça da sua Benção!

Se quiséssemos dar voz às nossas primeiras irmãs, elas, olhando para nós, aqui reunidas hoje, certamente exclamariam com Jacó: “Em verdade o Senhor está neste lugar, e eu não o sabia” (Gn 28, 16): Sim, porque só é possível compreender o agir de Deus no passar dos anos.

Preparando este escrito foi necessário colocar em ordem meus pensamentos, as muitíssimas recordações, a história que tenho guardada no coração a partir daqueles anos que passei aqui em Castellammare e especialmente na paróquia do Espírito Santo, e também os sentimentos que afloram.

Tento dizer algo sobre este evento de graça que se abre hoje, consciente de que será só um balbuciar, em relação à amplidão da história vivida e das muitas irmãs, que vivenciaram esta história, inclusive nós mesmas.

Gostaria de iniciar com duas imagens.

A primeira é a da construção de uma casa ou da sua restauração e o trabalho e a paciência que este trabalho requer. É a experiência que Francisco fez com a restauração das duas pequenas igrejas abandonadas de S. Damião e da Porciúncula.

Um trabalho paciente feito com as suas mãos, humilde e cotidiano; este trabalho fez nascer nele a capacidade de enfrentar uma obra de restauração muito mais difícil: a própria conversão ao Altíssimo e aquela que, misteriosamente, se propagará naqueles que o encontrarão e o conhecerão, do leproso ao sultão, de Clara a Antônio, do irmão mais afastado a frei Leão, com o qual teve uma autêntica relação de amizade.

Gostaria de dizer que, do mesmo modo, neste lugar, de um pequeno e pobre sótão começou a construção da nossa família religiosa.

Imagino que as primeiras intuições nasceram no coração de Padre Vicente Gargiulo enquanto celebrava diariamente a Eucaristia. Imerso no Mistério que celebrava, Padre Vicente começava a ver em algumas moças do bairro (algumas já mais adultas, outras mais jovens) algo que combinava com o projeto que Deus havia colocado em seu coração: a paixão pelo Evangelho e pelos pobres, isto é, como cuidar do povo do quarteirão de Praça Fontana Grande!

E estas jovens mulheres responderam colocando seus próprios recursos e a própria fadiga, sobretudo a própria fé na Providência: preparando a comida para os pobres do quarteirão, dando tempo e escuta às mulheres, instruindo as crianças, brincando com elas.

Existe uma belíssima foto de algumas das nossas primeiras irmãs que, com o hábito completo, jogam futebol na areia de Castellammare. É uma foto que comove porque mostra como, mesmo vivendo em 1800, estas nossas irmãs eram abertas e traduziam na própria vida o que s. Paulo diz na Primeira Carta aos Coríntios: “Fiz-me fraco com os fracos, a fim de ganhar os fracos; fiz-me tudo para todos, a fim de salvar a todos. Tudo isso eu faço por causa do Evangelho, para dele me fazer participante” (1Cor 9,22-23).

Este lugar, o lugar das nossas origens, nos recorda e nos demonstra que a fé se encarna na história, no ‘aqui e agora’; Deus se encarnou no seio de uma virgem e continua a repetir esta encarnação cada vez que uma pessoa vive com seriedade o Evangelho, cada vez que alguém como Pedro tem a coragem e a audácia de afirmar: “… por causa da tua Palavra, lançarei a rede!” (Lc 5,5b).

E penso que esta foi a oração corajosa das nossas primeiras irmãs: a partir um ato de fé, este lugar tornou-se para nós, terra sagrada, na qual procurar Deus, espaço de onde buscar luz e força para viver o dom do carisma plantado há 149 anos.

A segunda imagem é a da vida nas suas fases: nascimento, crescimento, fecundidade e sabedoria. Quando nasce uma família religiosa é uma vida que nasce: há uma espera grávida de esperança e de incógnitas, há um trabalho que prepara o nascimento, há a dor do parto e a alegria de uma vida novíssima, plena de energia na sua fragilidade.  E com o passar dos anos a vida cresce… e há um crescimento também nas pausas, no silêncio, na aparente falta de sentido… e no torpor.

E o nosso Instituto… quantas vezes terá atravessado nestes 149 anos ocasiões de desânimo, vazios, sonolência… e também renascimento, intrepidez, paixões, ardor, desejo de Absoluto, doação até ao extremo, sorrisos e acolhida… até hoje. Então como hoje, o Espírito trabalhava e trabalha para impulsionar-nos em direção de novos horizontes. “Onde tu desenhas confins, eu vejo horizontes” escrevia Frida Kahlo famosa pintora mexicana do século passado.

Muitas vezes temos objeções em nosso coração, mas também em palavras, porque nos vemos “poucas, pobres, doentes, cansadas, muitas vezes desanimadas e cheias de trabalhos que, às vezes, parecem nos sufocar”. Devemos humildemente reconhecer que é exatamente graças à nossa pobreza que o Senhor conduz a nossa história: nunca  devemos  nos esquecer irmãs, que nós nascemos aqui, pobres no meio dos pobres e para os pobres. A história da nossa família religiosa é “infinita” não porque nunca acabaremos… (isto não o sabemos) mas porque nascemos para o céu, somos salvas graças ao dom deste Carisma e a nossa presença na Igreja nós a deveremos ver como “uma pirâmide ao contrário”, como disse Madre Liliana à Irmã Carmela Sofi que, no seu diário escreve: “Dia 20 de junho de 1969 veio a Madre Geral, ir. Liliana Di Florio, para ver o local [da casa paroquial de Portosalvo]. À ir. Carmela Sofi che lhe pedia se podia continuar [a viver ali], respondeu: Minha irmã, as obras não são nossas, mas de Deus e é Ele que as conduz porque são suas. Começamos como uma pirâmide ao contrário, por isso de um pontinho insignificante do vértice se chegará à base de formas e dimensões tais que se disperdem no coração de Deus, o qual suscita os tempos, as circunstâncias e as pessoas que devem trabalhar na sua vinha.”

Tivemos muitas obras (algumas grandes) que marcaram a existência da nossa família religiosa (porque no curso da história não estivemos com as mãos ociosas) mas sempre começadas de um pontinho insignificante! Por isso nós nos alegramos porque a salvação chegou até nós, e através de nós a tantos, em várias partes do mundo, através da existência desta família religiosa. Quantas, também entre nós, se converteram ou se aproximaram do Senhor graças à vida de doação de algumas de nossas irmãs?!  E penso naquelas que trabalharam na linha de frente… nas fundações de novas comunidades por exemplo, especialmente no exterior… naquelas irmãs que, com um coração de mãe, cuidaram de crianças e de idosos… naquelas que se colocaram como ajuda e sustento na vida de tantos jovens, aconselhando, oferecendo, amando… e naquelas irmãs que, numa vida oculta, não obstante a idade e as doenças consumaram sua vida para o Reino. Quanta fecundidade e sabedoria de vida!

Passaram-se 149 anos e se quiséssemos quantifica-los em anos de vida humana corresponderiam a duas, três gerações. Mas foram milhares de vidas, vidas entrelaçadas a outras vidas, vidas diversas entre si; cada uma delas trouxe uma novidade, um sofrimento, um dom particular do Espírito, acrescentou alguma coisa no depósito da fé, nos obteve uma herança, um patrimônio espiritual do qual devemos nos sentir orgulhosas.

Um rio de vida plena que, não obstante nossas pobrezas, continuou a correr e a regenerar o nosso carisma.

Neste fluir de vida, hoje, quero colocar todas as nossas irmãs, em particular aquelas que estão enfrentando a prova da doença e procuram permanecer unidas ao Senhor, oferecendo o próprio sofrimento pela nossa família religiosa e pela Igreja. A doença, a fragilidade, são ocasiões propícias para viver numa aproximação fraterna, amorosa e dedicada… por isso convido todas nós que estamos aqui a tê-las no próprio coração, no seu sofrimento.

Termino pedindo ao Senhor, com vocês, uma graça especial para a nossa família religiosa: guardar o nosso coração unido ao Seu e não perder aquele olhar que guiou as nossas primeiras irmãs no cuidado para com o pobre e o indefeso.

O ano que prepara os 150 anos de aniversário da Fundação do nosso Instituto é hoje oficialmente aberto; todas as iniciativas pensadas para reavivar a consciência do dom recebido possam ser abençoadas pelos nossos fundadores e sob o manto de Maria, nossa mãe especialíssima!

Em louvor de Cristo e do seu servo Francisco! Amém

Ir. Ester Pinca – Custódia Maior

 


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