PÁSCOA: tempo de Esperança


“Dor compartilhada é dor superada, paixão acompanhada de compaixão redime por que aproxima os corações.” ( L.Boff)

 

Ao iniciar esta reflexão sobre o centro da nossa vida cristã, que é a Páscoa da ressureição, não posso deixar de lembrar da importância de viver este tempo como um tempo de partilha, de dor compartilhada e de compaixão que redime e que nos aproxima, como nos diz Leonardo Boff.

A humanidade, em tempos de coronavirus, vive um período difícil de sofrimento e dor, de perdas, de medo e insegurança, mas Deus é o nosso consolo, ELE dá sentido as nossas esperanças, responde aos nossos sacrifícios e as nossas dores, explica a nossa paixão de cada dia.

Viver a Páscoa significa ter a certeza de que a derradeira palavra que Deus proferiu com sua ressurreição não é morte, mas VIDA. É nossa responsabilidade como cristãos semear sementes de esperança, sementes de ressurreição nestes tempos difíceis de sofrimento, doença e medo. A cada vez que faço um gesto fraterno, a cada vez que sou solidário com as dores de quem sofre, a cada vez que vivo com fidelidade meus votos religiosos, a cada vez que tenho misericórdia com meu irmão e com minha irmã neste momento de incerteza e medo, com certeza novamente acontece a RESSURREIÇÃO.

Nosso querido Papa Francisco nos recorda que “a Páscoa de Jesus não é um acontecimento do passado: pela força do Espírito Santo é sempre atual e permite-nos contemplar e tocar com fé a carne de Cristo em tantas pessoas que sofrem”. (Christus vivit 123). Com estas sábias palavras o Papa nos pede que tenhamos fé e sejamos solidários e sobretudo fraternos com aqueles que estão ao nosso lado e vivem as dores e consequências desta doença que nos surpreendeu a todos.

Quando rezamos a passagem do Evangelho que fala dos discípulos de Emaús (Lc 24), devemos nos perguntar: E nós, até quando deixaremos o tumulo vazio para fazermos a experiência dos discípulos, que insistiram com Jesus: “Fique conosco, pois a noite já vem; o dia já está quase findando“. Então, ele entrou para ficar com eles. E na partilha do Pão eles o reconheceram. É na partilha que a ressurreição acontece, não podemos esquecer que o sonho de DEUS é a realização do Reino de fraternidade, de solidariedade e de paz.

A ressurreição é um processo em curso, ela está acontecendo todos os dias, no aqui e agora da nossa existência. Quando um coração se abre ao perdão, quando os homens se abrem a relações fraternas solidárias e justas aí acontece a ressurreição. A ressurreição de Jesus é o triunfo da esperança, é o prêmio dos que creem contra toda esperança, dos que permanecem em pé junto da cruz.

Quando pensamos no quanto é importante termos fé e permanecermos em pé junto da cruz de Jesus, sendo forte e perseverantes na tribulação, sendo consolo para os que necessitam do nosso consolo, sempre me vem a memória a figura de Madre Inês da Imaculada, ela que nos pedia para “permanecer em pé junto da cruz, a exemplo de Maria”. Madre Inês, esta mulher forte e corajosa, nos ensina nestes tempos de sofrimento e incertezas que devemos, a exemplo de Maria, nossa Especialíssima mãe, olhar para Jesus ressuscitado e em pé, firmes na fé ajudarmos aqueles que precisam da nossa força e consolo.

O mesmo nos recorda Madre Eugenia quando nos dizia: “SEDE BOAS, BOAS, BOAS […] AMAI-VOS UMAS ÀS OUTRAS […]. Como amais assim sereis amadas. PROCURAI DIAS MELHORES DE ORAÇÃO, DE FERVOR, DE UNIÃO ÍNTIMA COM DEUS […]. O verdadeiro paraíso na terra é Deus. ” Pois somente na intima união com Deus seremos capazes desta firmeza na fé, permanecendo em pé diante da cruz, e sendo consolo e conforto para nossos irmãos e irmãs que sofrem, de modo especial neste tempo de tanta tribulação.

Para que possamos crescer na fé, e buscar em Cristo ressuscitado a nossa força e esperança, precisamos nos unir enquanto família cristã, isso bem nos recorda o Papa Francisco na tarde do dia 27 de março, na benção URBI ET ORBI, quando exaltou a importância de permanecermos unidos a Jesus e fortes na fé em tempos de tempestade como este que estamos vivendo, “‘Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?’ O início da fé é reconhecer-se necessitado de salvação, sozinhos afundamos. Convidemos Jesus a subir para o barco da nossa vida. Confiemos-Lhe os nossos medos, para que Ele os vença. Com Ele a bordo, experimentaremos – como os discípulos – que não há naufrágio. Porque esta é a força de Deus: fazer resultar em bem tudo o que nos acontece, mesmo as coisas ruins. Ele sereniza as nossas tempestades, porque, com Deus, a vida não morre jamais”.

Sim, com DEUS a vida não morre jamais, Cristo Ressuscitou e deu-nos a vida para sempre. E, neste barco, estamos todos. Tal como os discípulos que, falando a uma só voz, dizem angustiados «vamos perecer» (cf. 4, 38), assim também nós percebemos que não podemos continuar nesta estrada cada qual por conta própria, mas só o conseguiremos juntos. Somente unidos podemos vencer esta tempestade do coronavirus e todas as outras que possam vir. Como cristão é impossível ser sozinho, somos uma grande fraternidade, a Igreja é uma grande família, de muitos irmãos e irmãs.

São Francisco de Assis, o homem da fraternidade universal, nos recorda que o mistério pascal se centra justamente neste viver juntos, em fraternidade, mesmo quando a tempestade parece não passar. O mistério pascal está no centro de nossa vida cristã. E através dos gestos de Cristo, manifestados em sua páscoa, temos uma idéia do alcance do amor de Deus por nós e passamos a conhecer o caminho do verdadeiro êxodo, da verdadeira passagem para uma vida nova em Cristo.

Quando São Francisco por ocasião de sua morte, disse aos frades: “Fiz o que tinha que fazer. Que Cristo vos ensine o que cabe a vós” (2Cel 214). Ele queria que seus irmãos refletissem justamente o mistério da Páscoa que cada um deve experimentar em sua vida. Nesta Páscoa, todos nós cristão devemos fazer esta experiência de fé, mortos para o pecado e vivos em Cristo Jesus, precisamos fazer como Francisco nos pediu, deixar que Cristo nos ensine a fazer o que cabe a nós nestes tempos difíceis. Não ter medo de fazer a nossa parte na construção de um Reino de esperança, esperança esta, que os novos tempos em que estamos vivendo nos pede.

E, através dos ensinamentos do próprio Cristo ressuscitado, aprender que cabe a nós viver o espirito fraterno com liberdade e amor, cabe a nós ser solidários, generosos, disponíveis. Cabe a nós permanecer em pé ao lado do irmão que sofre, cabe a nós sermos portadores de consolo, conforto e esperança.

E cabe, de modo especial a nós como consagradas, intensificar as orações, e em espirito de sacrifício, oferecer nosso dia, nosso coração e nossas preces a todos aqueles que estão sofrendo, das mais variadas formas, as consequências desta doença chamada coronavírus (COVID 19). Rezemos muito minhas irmãs e todos os irmãos que nos acompanham pelas redes sociais, REZEMOS e façamos com amor a nossa parte neste cenário de pandemia.

FELIZ E SANTA PÁSCOA!

DEUS NOS ABENÇOE E NOS MOSTRE COMO FAZER A NOSSA PARTE.

 

Ir. Virgínia Matias Homem – Custódia Provincial


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