ADVENTO: tempo de viver a humildade


“Se o Filho de Deus desceu da grande altura que separa o seio do Pai de nossa pequenez, foi para nos ensinar a humildade, Ele, o Senhor e Mestre, pela palavra e pelo exemplo”

(Legenda Maior 6,1).

 

Para viver bem este período do advento e descobrir a revelação divina da palavra no cotidiano da nossa vida, é necessário mudar o coração e o olhar, porque o mundo precisa se tornar um presépio para acolher o Cristo que se faz homem para nos ensinar a viver a humildade e o amor. E o amor é doação e serviço.

Cristo, pela palavra e pelo exemplo, nos ensinou que devemos viver este tempo forte de Advento, alimentados pela esperança, na certeza de que “nós não estamos sozinhos, o Senhor está conosco e nós nos alegramos nEle” (antífona do 4° Domingo do Advento).

Um tempo forte de escuta: escuta do Cristo que vem, escuta da Palavra que se fez carne e veio morar entre nós, escuta do Deus-conosco  que está bem perto, mas que está no meio de nós.

Um tempo de consolação: consolação de que não estamos sozinhos, e que, à medida que se aproxima o seu Natal vivemos uma ESPERA ALEGRE, de feliz expectativa, assim como o velho Simeão, “os meus olhos contemplaram a salvação, a honra de Israel” (Lc 2,29-31).

Devemos nos preparar para o NATAL, saboreando a alegria deste tempo forte de espera, de VIGILÂNCIA, de cuidado, meditando a palavra, abrindo nosso coração ao perdão de Deus, através do sacramento da Reconciliação. Ficarmos atentos pois, “o dono da casa pode voltar a qualquer hora” (Mc 13,35). Por isso é tão importante a vigilância, não desanimar, vigiar na oração, perseverar no bem. E quando nos perguntamos, como preparar o caminho? O próprio Cristo nos responde, VIGIAI E ORAI, ou seja, é necessário buscar uma espiritualidade de conversão; o advento nos dá a oportunidade de revitalizar a nossa fé, nos tornarmos testemunhas do amor de Cristo.

Não podemos ser como “UM CANIÇO ARRASTADO PELO VENTO” (Lc 7.24). Nossa atitude deve ser corajosa e firme; atitude de pessoas que sabem a direção a seguir, sabem a quem querem seguir. Definitivamente não podemos andar como um caniço arrastado pelo vento; nossa atitude deve ser de cristãos autênticos e fortes na fé. Devemos saber “caminhar entre as coisas que passam e abraçar a aquelas que não passam” (Oração pós comunhão do 1º domingo do advento).

Portanto, procuremos, concentrar-nos nas realidades que não passam, no amor de Deus que enviou seu FILHO, por amor a nós. Procuremos priorizar a vida FRATERNA, buscando tornar Deus presente, não ofuscar Deus com a nossa imagem, não instrumentalizar a imagem de Deus.

O mundo tem sede da presença de Deus. Percebemos claramente isso nesta pandemia. O Papa Francisco acentua muito essa realidade; não renegar nosso compromisso de sermos luz do mundo, e sal da terra, dar sabor ao Evangelho, sendo testemunhas fiéis (cf. Angelus, Praça S. Pedro, 9 de fevereiro de 2020).

Neste tempo em que o mundo inteiro vive as consequências desta pandemia é preciso que, como cristãos assumamos o compromisso de testemunhar a virtude da esperança e da resiliência, como capacidade de lidar com as adversidades, como virtudes de fundamental importância.

Num mundo tomado pela intolerância, pela violência e pelo desamor somos, convidados, neste tempo, a anunciar JESUS MENINO que vem nos trazer ESPERANÇA e PAZ e depositar Nele a nossa confiança, esperando que venceremos esta pandemia.

E, esperar envolve preparar-se para… Nossa espera deve ser fecunda; fecunda de esperança em DEUS que nos ama, e que enviou seu filho por amor a cada um de nós. Assim, olhando para o futuro com esperança, preparamos o nosso coração para o Senhor que vem.

À medida que nos aproximamos do dia 25, nos aproximamos, também, da figura de Maria, que nos aponta o caminho do presépio. Ela que é cheia da GRAÇA de DEUS, ela que sonhou com o Messias libertador, ela que soube tão bem fazer a vontade Deus, vem nos ensinar o caminho da humildade e do amor.

Maria nos ensina que o tempo do advento é tempo de sonhar. Sonhar e esperar contra toda esperança faz parte da essência do ser cristão. Por isso devemos, neste tempo forte, nos perguntar: Quais são os nossos sonhos e esperanças? Pessoas que sonham também são esperançosas, se alimentam desta esperança e são alegres, pois possuem a alegria da espera. Alegria que vem do Senhor, da alegre expectativa do encontro com Deus que se fez homem para estar no meio de nós. No mistério da encarnação, o sonho de Maria se realizou, Deus se faz homem por amor, Aquele que é infinito se faz finito por nós.

Portanto, neste advento procuremos viver uma ESPERA FRUTUOSA, que nos faz crescer na fé, no amor, na humildade e na esperança, que nos ensine a sonhar. Mas, para que esta espera seja, de fato, frutuosa precisamos estar vigilantes, atentos, em oração e perseverantes. Para que Ele não nos encontre dormindo, é preciso perseverar e vigiar.

Abramos o nosso coração para acolher este amor generoso de Deus. No advento, nós O experimentamos como um Deus muito próximo de nós, um Deus que é amor, como bem nos lembra São João:  “Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor. Nisto se manifestou o amor de Deus para conosco: em nos ter envia­do ao mundo o seu Filho único” (1 Jo 4, 8-9). Agora este amor tornou-se visível e palpável em toda a vida de Jesus. A sua pessoa não é senão amor, um amor que se dá gratuitamente, um amor de doação.

Viver o ADVENTO neste período único da história, que é a pandemia do coronavirus (COVID-19), é desafiador porque, por um lado, é um tempo de incertezas, insegurança, e perdas mas, por outro, é um tempo de esperança, de fé e de solidariedade. Abramos os nossos olhos para ver as misérias do mundo, as feridas de tantos irmãos e irmãs privados da própria dignidade e sintamo-nos desafiados a escutar o seu grito de ajuda. As nossas mãos apertem as suas mãos e estreitemo-los a nós, para que sintam o calor da nossa presença, da amizade e da fraternidade, pois quando estamos com Cristo e nos preparamos para acolhê-lo não há nada em nós que seja desprovido de compaixão.

Escolhida para ser a Mãe do Filho de Deus, Maria foi preparada desde sempre, pelo amor do Pai, para ser Arca da Aliança entre Deus e os homens. Guardou, no seu coração, a misericórdia divina em perfeita sintonia com o seu Filho Jesus. O seu cântico de louvor, no limiar da casa de Isabel, foi dedicado à misericórdia que se estende “de geração em geração” (Lc 1,50). Esta misericórdia deve nos mover, neste advento, permeado pela pandemia e pelo medo, olhar o irmão com o olhar de DEUS e levar a esperança que nos faz olhar para a frente e “esperançar” ou seja, esperar com esperança que o futuro nos reserva grandes alegrias.

Quanto mais o mundo afunda em crise, mais é necessário que respondamos ao apelo do papa Francisco: “Convido (todos) à esperança que nos fala de uma realidade cuja raiz está no mais fundo do ser humano…” (FT 55). A solidariedade que presenciamos nesta pandemia, em que tantas pessoas tiravam do pouco que tinham para ajudar outras em situação de desemprego e doença, empresários doaram equipamentos hospitalares para que as pessoas doentes fossem atendidas, são sinais de esperança e de vida.

Finalizo esta reflexão desejando a todos uma boa continuação de advento, pedindo a Deus que nos ensine a viver a humildade. ELE, com palavras e exemplos nos mostrou que isso é possível. Sendo de condição Divina, se fez homem e veio morar entre nós, assumiu a nossa condição humana, nossas fragilidades (Cf. Fil 2,6), para nos ensinar que somos todos irmãos.

 

Com fraterno abraço invoco a proteção de Maria, nossa mãe Especialíssima sobre todos aqueles que nos acompanham.

Irmã Virginia Matias Homem – Custódia Provincial


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