Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor


Por Élio Gasda*

Em tempos de crises, medos e contradições, seguir Jesus exige discernimento e coragem. Esse é o objetivo maior da Campanha da Fraternidade 2021. Um convite às “pessoas de boa vontade para pensar, avaliar e identificar caminhos para a superação das polarizações e das violências que marcam o mundo atual”.

A CF, que existe desde 1964, foi pensada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) como caminho para ajudar os católicos na reflexão sobre problemas concretos do povo: fome, desemprego, meio ambiente, família, violência. A partir do século XXI, a cada cindo anos, em comunhão com outras igrejas cristãs, as CF acontecem em parceria com o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC).

Em 2021, a quinta CF Ecumênica é proposta frente a um governo da discórdia, violência e divisão. O tema proposto é Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor, com o lema: “Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade” (Ef 2.14). Uma proposta do Evangelho de Jesus.

Antes mesmo de começar, a CF 2021 foi polemizada por fundamentalistas que não entendem que “uma comunidade cristã que crê em Cristo e deseja com o ardor do Evangelho a salvação da humanidade não pode fechar-se ao apelo do Espírito que orienta todos os cristãos para a unidade plena e visível… O ecumenismo não é apenas uma questão interna das comunidades cristãs, mas diz respeito ao amor que Deus, em Cristo Jesus, destina ao conjunto da humanidade; e criar obstáculos a este amor é uma ofensa a Ele e ao Seu desígnio de reunir todos em Cristo” (Ut Unum Sint, 99). Extremistas travestidos de católicos esbravejam contra a Campanha da Fraternidade, mas apoiam a tortura, a pena de morte e a violência contra os povos indígenas.

Precisamos de profetas que afirmem os fundamentos da verdadeira paz. Viver segundo o Evangelho é derrubar muros. Ser cristão exige compreensão mútua. A fé em Jesus Cristo não coaduna com a ideia da superioridade de um grupo sobre outros.

Um dos textos iluminadores da CF é sobre os discípulos de Emaús (Lc 24, 13-35). Como discípulos, o que conversamos ao longo do caminho? O Brasil vive tempos tristes! Quase 250 mil mortes causadas pela Covid-19, governo negacionista que emperra a vacinação, destruição acelerada do meio ambiente, a fome que atinge 10 milhões de brasileiros, milhões de desempregados, aumento da violência contra a mulher e contra a população LGBT, racismo, intolerância religiosa.

A diversidade de cada pessoa e de cada grupo é sinal da riqueza do corpo de Cristo. Em Cristo, todas as pessoas são iguais em dignidade. Não podemos nos acomodar diante de tanta agressividade! Continuaremos entregando Jesus à morte ou abriremos nossos olhos e nosso coração? Seremos coerentes e denunciaremos toda forma de violência e discriminação contra pessoas e grupos? Vamos restaurar a dignidade das pessoas, superar conflitos e alcançar a reconciliação encorajados pela Justiça?

A unidade e a paz somente podem se concretizar por meio da cultura do amor e da convivência inter-religiosa. A fé não é motivo para divisões, mas princípio para o diálogo.

Cristo é mesmo a nossa paz? Estamos unindo ou dividindo? Associamos o nome de Jesus mais ao amor ou a intolerância? Na época de Jesus, o Império mantinha a ordem aparente através da violência. Poder militar e religião eram utilizados como instrumentos a serviço dos poderosos. A lei religiosa separava as pessoas puras das impuras, doentes, pecadoras e estrangeiras. Mas Jesus questionou os sistemas de poder. Despertou esperanças. Não viveu para si mesmo. Dedicou sua vida combatendo as forças da morte. Por isso os poderosos não o suportavam. É impossível amar a Deus e apoiar um governo criminoso.

Que nesta Quaresma o Senhor nos faça subversivos como Ele. Aderir à Jesus leva ao confronto! Os cristãos não podem permanecer eternas crianças na fé, mas devem amadurecer em Cristo (Ef 4,13). Que nestes tempos sombrios “permaneçam estas três coisas: a fé, a esperança e o amor; mas a maior de todas é o amor” (1Cor 13,13).

Somos todos irmãos e irmãs. Essa é a mensagem do Fundador das religiões cristãs. Que nos amemos uns aos outros. Resgatemos o desejo universal de irmandade.

“Vinde, Espírito Santo! Mostrai-nos a vossa beleza refletida em todos os povos da terra, para descobrirmos que todos são importantes, que todos são necessários, que são rostos diferentes da mesma humanidade amada por Deus” (Fratelli tutti – Oração cristã ecumênica).

*Élio Gasda

Professor na FAJE (Faculdade Jesuita de Filosofia e Teologia),

Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Teologia.

Fonte: https://domtotal.com


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