Palavra de Deus, história e vida


Podemos compreender com clareza, que Deus age de diversas maneiras, e age de modo pessoal na história de vida das pessoas e de seu povo. Compreendendo bem a história, podemos compreender melhor também a Palavra de Deus e a sua ação na nossa vida. Esta história está contada na Bíblia.

A Bíblia foi escrita uns mil anos antes do nascimento de Jesus e suas últimas linhas foram escritas uns cem anos depois de seu nascimento.

O Primeiro Testamento (A.T) fala do que aconteceu antes de Jesus nascer e o Segundo Testamento (N.T) fala do nascimento, vida, morte, ressurreição de Jesus e da vida dos primeiros cristãos.

A Bíblia é um livro que levou mais de mil anos para ser escrito. Dentro dela há muitos outros livros.

A Bíblia foi escrita por pessoas humanas como todos nós. Dizemos que é palavra de Deus porque foi Ele quem inspirou as pessoas que a escreveram (2Tm3, 16 e 2Pd1, 21). Esta inspiração não está só nas pessoas que escreveram a Bíblia, mas também nas pessoas que sentiram e sentem Deus presente e agindo na própria vida e na vida do povo. Todas as verdades que interessam à nossa salvação estão na Bíblia.

Há diversos modos de escrever e de falar na Bíblia, ou seja, gêneros literários diferentes, pois, ela foi escrita em épocas diferentes, em culturas diferentes, por diversas pessoas e muito tempo depois dos acontecimentos. Antes de ser escrita, foi contada, passando de geração em geração.

 

História da Salvação

 

A pessoa humana criada à Imagem e Semelhança de Deus é dotada de inteligência, de livre arbítrio e capacidade de amar. Deus cria, orienta e dá as condições de vida, mas respeita a liberdade de escolha do ser humano. (Gen.1,1-30; 2,18-24). Cria-o para a felicidade, para a plenitude de vida. O mau uso da liberdade deixa o ser humano vazio, frustrado, impedido de alcançar sua realização plena, a dignidade de filhos de Deus.

 

O Pecado gera Maldade

 

Desde o início, a maldade, a ganância, a ambição, o orgulho, etc., estavam no coração das pessoas, por isso não conseguiram andar nos caminhos indicados por Deus (Gen. 2 _ 4).

Vendo esta maldade, Deus resolveu formar um povo separado dos outros povos, escolhendo Abraão para ser pai do povo escolhido (Gen. 12). Abraão teve um Filho chamado Isaac e um neto chamado Jacó ( Gen.21; 25,19-26). Jacó teve 12 filhos e por causa de uma grande seca na região mudou-se com toda a família para o Egito (Gen. 41 _47) Com o tempo o povo tornou-se numeroso e o Faraó, rei do Egito, por medo de ser dominado, submeteu o povo descendente de Abraão, Isaac e Jacó à dura escravidão e mandou matar todos recém-nascidos masculinos dos hebreus (Ex.1). Era a maldade que fazia irmãos dominar, explorar e matar o próprio irmão.

 

Libertação e Aliança

 

Sofrendo grande escravidão, o povo clama a Deus e Ele escuta e atende (Ex.2, 23-25). Deus escolhe Moisés, um hebreu que tinha escapado de ser afogado (Ex.2,1-10) para ser o libertador de seu povo (Ex. 3s).

Depois de muitas dificuldades, Moisés, ajudado por Deus, conseguiu organizar o povo e sair da escravidão, fugindo para o deserto (Ex. 14 e 15). Começaram a caminhada para a terra que Deus havia prometido dar a eles.

No começo da caminhada Deus fez com eles a proposta de uma aliança, com dois compromissos: Da parte de Deus o compromisso de proteger o povo (Ex. 19,5); Da parte do povo o compromisso de guardar os 10 mandamentos (Ex. 20,1-17; Deut.5 e 6). O povo aceitou a aliança e esta foi celebrada e selada com sangue (Ex 24,1-8).

Os mandamentos de Deus são  caminhos para uma vida livre da escravidão.

A Posse da Terra e a Vida do Povo

 

Depois de celebrar a Aliança, o povo continuou a caminhada para a terra prometida.O povo não foi fiel aos compromissos da Aliança (Ex 32), mas Deus foi tendo paciência, perdoando, conduzindo, ajudando (Ex 33). Assim eles chegaram e tomaram posse da terra (Js1– 12).

O povo era organizado em 12 grupos ou Tribos. Cada Tribo tinha o nome de um dos filhos de Jacó. A terra foi dividida com justiça entre eles (Js13 -21).

Nesse tempo o povo era governado por Juízes (Ex18 e Jz1-21). A terra nunca seria vendida definitivamente. A venda valia no máximo 50 anos depois voltava ao antigo dono. (Lv25; Deut 15)

O povo celebrava a Páscoa e outras festas todos os anos para lembrar que Deus os tinha libertado da escravidão. Celebrava para agradecer a posse da terra e a vida do povo (Ex12 e Deut16). Como povo, tinha também o compromisso de pagar o dízimo (Deut14, 22-29).

Depois de algum tempo o povo quis ter um rei como outros povos. Deus avisou que não era bom ter rei, pois estes gostam de mordomias e poderiam submetê-lo à escravidão (1Sam 8). O povo insiste e assim começa o governo dos Reis: Saul, Davi, Salomão (1Sam1-2; Reis e Crônicas).

Os reis não seguiram o caminho de Deus e levaram o povo a ser infiel à Aliança. Deus então mandou Profetas para reclamar do povo a fidelidade à Aliança, falando em nome de Deus. Os Profetas exigiram fidelidade aos mandamentos, denunciavam os erros dos reis e do povo (Is1 e 5). Eles também anunciavam a esperança da salvação, convidavam o povo a confiar em Deus (Is 10 e 43).

Os reis e o povo não atenderam a voz dos profetas, por isso sofreram muito e caíram numa nova escravidão, o exílio da Babilônia. Isso aconteceu uns seiscentos anos antes de Jesus Cristo (2Rs 25).

Depois de 50 anos, novamente ajudado por Deus voltaram para sua terra (Is 43; Esd. e Ne.). Apesar de muitas lutas não conseguiram mais a independência política.

 

O Nascimento de Jesus

 

No tempo de Jesus, os Romanos eram os estrangeiros que dominavam o povo. Eles tiravam 46% de toda produção do povo, e, além disso, o povo tinha que pagar 14% de imposto aos sacerdotes do templo. As multidões, cansadas e abatidas, eram como ovelhas sem pastor. A escravidão do sofrimento e da falta de esperança era grande no meio do povo.

Deus então provou uma vez mais o seu amor enviando seu próprio Filho ao mundo. Para isso serviu-se de uma mulher, Maria de Nazaré, convidando-a para ser a mãe de seu Filho. Atendendo a mensagem do anjo Gabriel, enviado de Deus, Maria disse: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc.1,26-38).

Quando completou o tempo de Jesus nascer, os Romanos querendo receber melhores impostos, mandaram fazer um recenseamento (contagem de pessoas). Cada chefe de família tinha que ir à sua terra natal com toda a família para ser alistado. Por isso José e Maria viajaram de Nazaré, onde moravam, até Belém, terra natal de José.

Quando chegaram a Belém as pensões estavam lotadas e eles, com poucos recursos foram passar a noite num abrigo de animais. Nessa noite nasceu Jesus. Seu berço foi um cocho onde os animais comem. Jesus nasceu pobre como nascem as crianças pobres.

Naquela noite, uns pastores (vaqueiros) estavam lutando com seu gado. Deus mandou um Anjo de luz dizer a eles: “Não tenham medo, eu trago uma boa notícia. Hoje nasceu para vocês um Salvador na cidade de Davi. O sinal é este: vocês encontrarão um menino enrolado em panos e deitado numa manjedoura”. Os pastores disseram: ” Vamos a Belém”. Foram e encontraram Maria, José e o menino deitado no cocho. (Lc 2,1-20)

Os reis magos também viram um sinal no céu, indicando o nascimento de Jesus. Seguiram a estrela e encontraram o menino com Maria, sua mãe. Eles adoraram Jesus e ofereceram- lhe presentes: ouro, incenso e mirra(Mt 2, 1-12).

A vida de Jesus depois de seu nascimento é resumida assim pelo evangelho: “ Jesus crescia em sabedoria, em idade e graça, diante de Deus e dos homens”. (Lc. 2, 40). Jesus foi um menino como os outros meninos, foi operário e trabalhou como carpinteiro.

 

Jesus e seu Ensinamento

 

Aos 30 anos Jesus saiu de casa. Foi ao Rio Jordão para ser batizado por João Batista. No batismo o espírito Santo desceu sobre Ele em forma de pomba e Deus declarou: “ Este é meu Filho amado que me dá alegria” (Mt 1,9-11; Lc. 3, 21-23). Depois de ser batizado Jesus foi para o deserto. Lá ficou 40 dias em oração, jejum e vencendo tentações. Depois Jesus voltou para o meio do povo e começou a ensinar na Galiléia, dizendo: “completou-se o tempo. Chegou o reino de Deus. Mudai de vida e acreditai no Evangelho”. (Mt1,12-15). Ele passou uns 3 anos ensinando, curando e fazendo o bem a todos.

O centro da mensagem de Jesus está na idéia de Deus como Pai e de nós como  filhos e irmãos. (Mt23,8-9). O Pai quer nos dar o seu Reino (Lc12, 32). Deus quer reinar como Pai, num reino onde haja vida em abundância para todos os seus filhos e filhas (Jo.10,10), por isso o maior mandamento é amar a Deus e o segundo , semelhante ao primeiro, é amar os irmãos. Jesus insistia que “destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas” (Mt22, 34-40). Diz ainda: “ O meu mandamento é este: amai-vos uns aos outros como eu amei vocês”. (Jo13, 34-35; 15,12-17).

O que Jesus pede de nós é que vivamos como filhos de Deus e como irmãos. Este é o ponto central da vontade de Deus revelada por Jesus. A vontade de Deus é que sirvamos uns aos outros. O serviço gratuito ao outro leva à salvação (Mt.25,31-46; Jo. 13,1-15) e os discípulos dele escreveram mais tarde que sem o amor ao próximo nada valemos(1Cor13 e IJo3 e 4)

Assim Jesus continua os ensinamentos dos Profetas que Deus quer a misericórdia, a prática da caridade, da justiça e do direito principalmente com os pobres e oprimidos (Is1,10-19;5,1-7). Para produzir esse fruto o cristão deve estar bem unido a Jesus, como o galho na planta porque sem Jesus nós nada podemos fazer (J015,1-17) A união com Jesus, com o Pai e com o Espírito Santo se alimenta pela oração. E para amar e servir o irmão, como Jesus fez é preciso renunciar ao egoísmo, sabendo perder a vida para ganhar e dar a vida (Lc9, 23-27; Jo10,10-11)

Tudo o que Jesus fez e ensinou está na dimensão do amor a Deus e aos irmãos. Foi por causa de sua fidelidade de amor ao Pai e aos irmãos,  sua ação coerente com seu s ensinamentos que Jesus foi rejeitado e crucificado e foi por causa dessa mesma fidelidade que o Pai ressuscitou Jesus (At2, 22-36).

Viemos de Deus, voltamos para Ele e nossa vida só tem sentido nele.

O ser humano foi criado para o eterno. Sua existência só tem sentido no Deus Uno e Trino, revelado plenamente em Jesus cristo.

Em cada ser humano existe uma sede fundamental, a busca do infinito, busca de Deus. Por isso é que busca sua razão de ser no mundo. Busca associar-se aos outros porque tem necessidade de compartilhar e é dentro da comunidade que ele se identifica e se desenvolve através da doação de si. Ele não só precisa dos outros, mas precisa também  doar-se aos outros.

 

Fonte de Pesquisa: “Para uma Catequese Fundamental nas Comunidades” . Paróquia São Sebastião – Diocese de Montes Claros

 

 

irmaeva* Irmã Eva Maria Nunes é

franciscana Alcantarina,

pedagoga, Mestra de Noviças e

Conselheira Provincial


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