Formação: Desafio e Paixão


 “…. Os consagrados são chamados a fazer de seus lugares de presença,

de sua vida fraterna em comunhão e de suas obras,

lugar do anúncio explícito do Evangelho,

principalmente aos mais pobres.”

  (Documento de Aparecida, 217)

bom_samaritanoHoje, mais do que em tempos passados a formação para vida religiosa se apresenta como um grande desafio. Como nos diz o documento de Aparecida no trecho acima citado, somos chamados(as) a fazer da nossa vida anúncio explícito do Evangelho, de modo particular aos menos favorecidos.

Então me pergunto: Como colocar no coração de nossas jovens formandas esta paixão?

Como ensiná-las a viver valores vitais para vida consagrada, como oblatividade, solidariedade, paciência, humildade espírito de partilha, num mundo onde impera a competitividade, o individualismo, o consumismo?  Este é o grande desafio e o mais comprometedor para mim. Ajudá-las a assumir a forma (rosto) de Jesus Cristo nas ações cotidianas, ensiná-las que a paixão pelo Reino é um compromisso que se assume a cada dia, nas pequenas coisas.

Ajudar a jovem a aprimorar e a desenvolver seus sentimentos e valores humanizadores (sentimentos que traduzem o amor pelo próximo) e ter a coragem de dizer para jovem que não quer cultivar estes valores que ela não tem condições para Vida Religiosa. Pode até ter vontade, mas não tem as condições necessárias. Isso é um desafio!

A formação inicial tem o compromisso de ajudar a jovem a dar um novo rosto à vida religiosa, novo ardor. Que grande desafio! São estas novas religiosas que, juntamente com as mais antigas de caminhada farão da vida religiosa um espaço de mudança e de fraternidade.

Quando falamos em novas gerações na VR, não podemos nos esquecer que não se quer dizer gente nova, nem se está falando apenas de idade. As mais jovens se juntem às de meia idade, terceira e quarta idade, não importa. O que importa é que de mãos dadas façamos nascer uma nova vida religiosa, mais comprometida, mais fiel, alegre, humanizada e humanizadora, com um sopro novo.

Não percorremos um caminho pronto, a jovem formanda precisa desde cedo entender esta realidade, estamos a caminho, o caminho se faz. Como franciscanas, nosso caminhar é ainda mais longo, pois Francisco nos quis itinerantes, sempre com a “mochila” nas costas, em busca de novas terras de evangelização. O espírito de missionariedade (amor pela missão) deve perpassar o caminho da jovem desde o início do processo formativo.

Uma jovem que não se interessa pelos menos favorecidos, que não é solidária, nem demonstra gosto pela evangelização seja em sua própria terra, seja em terras distantes e difíceis, com certeza não tem as condições necessárias para VR. E precisamos ajudá-la a entender isso, mesmo que seja este um grande desafio.

A identidade principal da VR é a vivência comunitária, a vivência dos valores evangélicos da fé e da oblatividade (doação). Para nós franciscanos este compromisso é ainda mais forte e desafiador, não é apenas vivência comunitária, mas acima de tudo, vivência fraterna, ou seja, partilha de dons, de bens, partilha de fé e espiritualidade, viver como irmãos e irmãs, unidos pelos preciosos laços da fé. Sendo testemunhas desta vivência para todos os irmãos que conosco trabalham e convivem especialmente as jovens que chegam até nós com o desejo de experimentar nossa forma de vida.

bom_samaritanoCada uma de nós irmãs Franciscanas Alcantarinas, se queremos ser exemplo e incentivo para as novas gerações de irmãs, precisamos a cada dia voltar ao nosso fundamento inicial, ao nosso primeiro amor e então reconstruir nosso espaço, fazer novamente nossa escolha pelo projeto de Deus na nossa vida.

Esta é a grande missão do/a formador(a), ajudar as jovens formandas a trilhar o difícil caminho em direção a uma experiência profunda de Deus e alimentadas por esta experiência qualificar o serviço aos irmãos. A experiência de Deus sustentará a caminhada da jovem, até mesmo nos momentos de crise.

Tendo sempre presente esta expressão de São Paulo:  “ Tudo posso, mas nem tudo me convém.”  Com esta afirmação Paulo nos mostra o quanto devemos estar conscientes das nossa opções. O que me convém deve ser fruto de uma opção livre. Posso tudo, mas diante de minha escolha, nem tudo me é possível e conveniente.

Particularmente, posso afirmar com certeza a veracidade do que diz o título deste artigo, no serviço da formação, se vive ao mesmo tempo, o desafio e a paixão.

A paixão pela formação nos move a continuar dando tudo que temos para ajudar a jovem a vislumbrar o rosto de Jesus Cristo de uma forma diferente, mais livre, consciente e corajosa.

A gratificação de ver a jovem crescendo, se esforçando, exercitando-se para assumir e viver os novos valores é a maior recompensa para quem exerce o serviço da formação.

Quanto ao serviço de animação vocacional da Província, não podemos nos abster de cumprir a nossa parte nesta missão. Cada Irmã Franciscana Alcantarina tem a responsabilidade de rezar e zelar pelas vocações. Como nos diz o documento Vita Consecrata¨: “O convite de Jesus: ‘Vinde ver’ (Jo 1,39) permanece, ainda hoje, a regra de ouro da pastoral vocacional. Esta visa apresentar, seguindo o exemplo dos fundadores e fundadoras, o fascínio da pessoa do Senhor Jesus e a beleza do dom total de si à causa do Evangelho. Portanto, a tarefa primária de todos os consagrados e consagradas é propor corajosamente, pela palavra e pelo exemplo, o ideal do seguimento de Cristo, amparando depois a resposta aos impulsos do Espírito no coração dos chamados” (VC, 64).

Não deixem de rezar pelas vocações. Não deixem de rezar por quem está exercendo, no momento, o serviço de animação vocacional. Não deixem de apoiar e rezar por quem está responsável pela formação destas jovens. É um grande desafio. Rezem para que seja também uma grande paixão.

irvirginia*Irmã Virgínia Matias Homem é

franciscana alcantarina,

psicóloga, formadora do Juniorato e

Conselheira Provincial


↩ Voltar