Mãe Aparecida: modelo de Discípula Missionária


Estamos em pleno Mês Alcantarino, dedicado às grandes festas da nossa espiritualidade, dentre elas a Solenidade de Maria, sob o título de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil e da Província. A Ela, nosso grande modelo de vida cristã e de vida Consagrada, queremos expressar nosso amor filial com o presente artigo.

Desde o descobrimento do Brasil cultiva-se aqui a devoção de Nossa Senhora. Os portugueses descobridores do país tinham-na aprendido e usado desde a infância; os primeiros missionários img16recomendavam e propagavam-na. Aonde se fundavam cidades, construíram-se igrejas em honra à Nossa Senhora. A partir de 1717, depois que sua imagem foi “pescada” no Rio Paraíba, o povo das proximidades de Guaratinguetá, passou a chamá-la de Nossa Senhora “a Aparecida” e celebrar o grande milagre com grande solenidade.

A grandeza de Maria não está no fato de ter aparecido de diferentes maneiras , a pessoas, lugares, mas no fato de ter sido escolhida por Deus, acreditado na Sua Palavra, e ter dado a resposta, através de um Sim.

Mãe do Missionário do Pai por excelência, Nossa Senhora veio ao mundo com um desígnio missionário. Ao dar-nos o Salvador, ela colaborou diretamente na Obra da Redenção. Consagrou-se inteiramente à Pessoa e à obra de seu Filho.

Diversas são as circunstâncias em que Maria mostra-se a discípula missionária mais perfeita. Sua primeira viagem missionária aconteceu ao visitar sua prima Isabel. Antes mesmo de ter contemplado e admirado o rosto de Jesus, foi apressadamente levar e anunciar aos outros o Salvador que carregava em seu seio materno.

Maria acolheu com fé a Boa Nova, transformando-a em anúncio. De primeira evangelizada passa a ser evangelizadora. Quem traz Jesus consigo, sente pressa e ardor em anunciá-Lo aos outros.

Outra viagem missionária de Maria termina em Belém com o nascimento de seu Filho e o encontro com os pastores e os reis magos. Dando-nos o primeiro missionário Jesus Cristo, podemos dizer que Maria está na origem de toda a evangelização.

Maria foi missionária também no deserto, a caminho do Egito. Podemos dizer que a vida de Maria foi um caminho e uma peregrinação da fé em Cristo. Ela realizou a primeira missão além fronteira.

Outro momento eminentemente missionário de Maria aconteceu em Caná da Galiléia. Por sua intercessão, Jesus realiza o primeiro sinal, transformando a água em vinho. Deste sinal brota a fé dos discípulos.

A presença e a influência de Maria estarão na origem da fé dos discípulos e missionários de todos os tempos.

Não podemos deixar de mencionar ainda a viagem missionária de Maria ao Calvário. Por meio da sua compaixão e proximidade espiritual, maternal e solidária, a Mãe de Jesus participava intimamente na consumação da obra Redentora na cruz.

Na pessoa de São João, o discípulo amado do Mestre, recebemos Maria como nossa Mãe. Jesus entrega sua Mãe aos discípulos e missionários de ontem, de hoje e de amanhã.

Igualmente, importante foi a viagem missionária de Maria ao Cenáculo, onde todos perseveravam “em oração com a Mãe de Jesus” (At 1,14). Na manhã de Pentecostes, ela presidiu, com sua oração, o início da evangelização sob a ação do Espírito Santo.

A última viagem missionária de Maria começou a partir de sua assunção em corpo e alma ao céu e perdura até o fim do mundo.

Ontem como hoje, Maria continua a ser a discípula missionária solícita e atenta às nossas necessidades para interceder junto do seu Filho. Como modelo de discipulado, Maria é a mais perfeita cumpridora do mandamento primeiro de Deus: “Amarás ao Senhor teu Deus, com todo o teu coração” (Mt 22, 37).

Nesta perspectiva devemos nós, buscar em Maria – a partir do legado do nosso Fundador e, inspiradas pelo Documento de Aparecida -, como sermos discípulas missionárias, hoje.

Com grande constância acreditou Pe. Vincenzo que sua Congregação, sob o patrocínio da Virgem Maria, haveria de incansavelmente colaborar com a Igreja na implantação do Reino. “Cada Irmã Franciscana Alcantarina olha para Maria, ‘Virgem feita Igreja’ e ‘Mãe especialíssima’ do Instituto, como seu modelo e, do mesmo modo que ela, coopera para a regeneração do gênero humano” (Const. Art 30).

Contemplamos o seu SIM sem reservas a Deus, a sua solicitude para com os necessitados, sua fidelidade até a cruz, sua presença junto aos discípulos na Igreja nascente. Por isso, as Alcantarinas, desde a formação inicial, são convidadas a amar e a venerar Maria: “Milhares e milhões de vezes seja bendito o Senhor que nos deu tal mãe! Filhas, amemo-la com amor puro e operativo.[…]Viva Maria e quem a criou!” (Carta Programática)

Maria, nossa “Mãe Especialíssima”, é a garantia de tudo aquilo que Deus consegue realizar numa criatura humana que se deixa amar por Deus, como Ele nos quer amar. Ela é, ao mesmo tempo, nossa Estrela Polar, “aquela que nos guia e guiando-nos alegra os tristes dias de nossa vida” (VG), isto é, aquela que nos ajuda a dar uma resposta de amor ao amor infinito que Deus tem por nós. Maria é a nossa maior e melhor resposta de amor a seu Filho.

No Documento de Aparecida, “Maria é a grande missionária, continuadora da missão de seu Filho e formadora de missionários” (DA 269, cf. 320). É um modelo do “seguimento de Cristo” (DA 270) e uma “escola de fé destinada a nos conduzir e a nos fortalecer no caminho que conduz ao Criador do céu e da terra” (DA 270)

img17“A Virgem Maria é a imagem esplendida da conformação ao projeto trinitário que se cumpre em Cristo (…) e que a plenitude de nossa liberdade está na resposta positiva que lhe damos” (DA 141) Com Maria “chega a cumprimento a esperança dos pobres e o desejo de salvação” (DA 267). Por sua “constante meditação da Palavra e das ações de Jesus (cf. Lc 2,19. 51), é a discípula mais perfeita do Senhor” (DA 266).

Em seu rosto “encontramos a ternura e o amor de Deus” (DA 265). Ela é “a presença materna indispensável e decidida na gestação de um povo de filhos e irmãos, de discípulos e missionários de seu Filho“ (DA 524). Maria “cria comunhão e educa para um estilo de vida compartilhada e solidária, em fraternidade, na atenção e acolhida do outro, especialmente se é pobre e necessitado” (DA 272).

Maria “é artífice de comunhão” (…) que “atrai multidões a comunhão com Jesus e sua Igreja, como experimentamos muitas vezes nos santuários marianos” (DA 268). Ela “ajuda a manter vivas as atitudes de atenção, de serviço, de entrega e de gratuidade”, indicando assim “qual é a pedagogia para que os pobres, em cada comunidade Cristã, “sintam-se como em casa” (DA 272)

O nome de Nossa Senhora sempre foi, no Brasil, invocado por todos em momentos de aflição e perigo e sua devoção é praticada em quase todas as casas. Somos convidadas, uma vez mais, a descobrir em Maria sua alma missionária e apostólica na adesão ao Projeto de Deus.

Que ela seja a “estrela da evangelização” sempre renovada que a Igreja, dócil ao mandamento de seu Senhor, deve promover e cumprir, sobretudo nestes tempos difíceis, mas cheios de esperança!

Qimg18ue ela seja a “‘Estrela Polar’ que nos guia e guiando-nos alegra os tristes dias de nossa vida.”

Que possamos rezar com muita devoção e piedade, como rezou o saudoso Papa João Paulo II:

Que ela seja a “Senhora Aparecida”, senhora de tantas Marias: Maria negra, Maria pobre, Maria da vida, Maria da luta! Maria explorada, Maria espoliada etc, sonhando com um mundo novo.

Que ela seja a “Mãe Especialíssima”, testemunha da Paixão do Filho, – na Paixão de cada irmão empobrecido e explorado, personificação dos pescadores Domingos Garcia, Felipe Pedroso e João Alves no rio Paraíba -, sustentando-nos nas cruzes do dia-a-dia

Que ela seja a “companheira de caminhada” de todos os discípulos missionários que se põe a caminho na construção do Projeto de amor e Vida de Jesus. “Ensinai-nos a crer, esperar e amar convosco, ó Maria. Indicai-nos o caminho para o seu reino! Brilhai sobre nós e guiai-nos no nosso caminho!” (Papa Bento XVI)

“Maria, eu vos saúdo e vos digo “Ave”! […] Quero confiar-vos de modo particular este povo e esta Igreja, todo este Brasil, grande e hospitaleiro, todos os vossos filhos e filhas, com todos os seus problemas e angústias, trabalhos e alegrias. Quero fazê-lo […], entrando nesta herança de veneração e amor, de dedicação e confiança que, desde séculos, faz parte da Igreja do Brasil e de quantos a formam, sem olhar as diferenças de origem, raça ou posição social, e onde quer que habitem neste imenso país. Ó Mãe fazei que esta Igreja, a exemplo de Cristo, servindo constantemente o homem, seja a defensora de todos, em particular dos pobres e necessitados, dos socialmente marginalizados e espoliados. Fazei que a Igreja do Brasil esteja sempre a serviço da justiça entre as pessoas e contribua ao mesmo tempo para o bem comum de todos e para a paz social”.

Que a exemplo de Maria discípula missionária, sejamos, também nós, generosas na resposta ao chamado de Deus, consagrando, sempre mais, toda a nossa vida a serviço dos pequenos e oprimidos desta terra de Santa Cruz, na família Franciscana Alcantarina.

MARAIrmã Mara Claudete Patan

é franciscana alcantarina, Teóloga e

Pedagoga


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