Quaresma: Tempo de renovar o amor.


“A Quaresma é um novo começo, uma estrada que leva a um destino seguro: a Páscoa da Ressurreição, a vitória de Cristo sobre a morte.”

(Papa Francisco)

 
Iniciando o tempo litúrgico da quaresma, convido a voltar nossa reflexão ao amor misericordioso e ao abraço redentor de Jesus, que fez da cruz um sinal de contradição, esta cruz que era símbolo de humilhação e vergonha, se torna redenção e libertação.

Viver este tempo forte da quaresma como tempo de conversão, como tempo de renovar o amor pelo Deus do amor é uma escolha que somente nós podemos fazer. No deserto Cristo supera todas as tentações numa entrega total à vontade do Pai, com seu gesto nos ensina que somente a fé nos capacita a escolher o amor de libertador de Deus e o abraço redentor de Jesus.

Neste tempo de quaresma temos muitos demônios para enfrentar, mas o que não podemos esquecer é que o verdadeiro demônio a exorcizar da nossa vida é a falta de amor. A insensibilidade, a ausência de solidariedade, a intolerância e a falta de respeito pelo outro, por todo ser vivo, devemos exorcizar da nossa vida. Quando tiramos da nossa vida tudo que impede a comunhão e a partilha acontece a vitória da cruz e a Ressurreição.

            A cada ano a Igreja nos ajuda a refletir a realidade da conversão através da reflexão do tema da Campanha da Fraternidade, que neste ano é: “Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida” e o lema “Cultivar e guardar a criação” (Gn 2,15).

Deus quer um mundo reconciliado, quer a comunhão, quando a comunhão acontece a vida aflora em todas as suas formas e o Reino de Deus acontece. Quando não respeitamos a vida em todas as suas formas a natureza nos cobra e sofremos as consequências do nosso desrespeito.

No livro de Genesis capítulo três, o autor sagrado nos recorda a responsabilidade do homem que, no abuso de sua liberdade se tornou cativo, sofrendo as consequências históricas deste abuso sobre a criação de Deus, gerando consequências cruéis e comprometendo uma qualidade de vida sustentável.

Por isso a Igreja quer que reflitamos sobre os biomas brasileiros e a defesa da vida, neste imenso País que possui enorme extensão territorial e apresenta climas e solos muito variados, por isso uma grande diversidade de biomas, seis na verdade, definidos, sobretudo pelo tipo de cobertura vegetal.

            Deus fala através de seu povo, por seus sinais, por sua paixão, suas buscas e esperança. Deus fala através da natureza em suas mais variadas formas, Deus nos mostra sempre o melhor caminho para uma vida plena, fraterna e feliz, mas muitas vezes fechamos os ouvidos à voz de Deus.

            São Francisco foi para nós um grande exemplo de vida voltada para o respeito à vida. Sua conversão se deu na defesa daqueles a quem era negado o direito de uma vida digna, os leprosos. Para Francisco ser pobre não era simplesmente não possuir coisas, era muito mais que isso, era dar-se continuamente ao outro, dar a si mesmo, seu tempo, sua vida, seu amor. Nada ter era apenas consequência, sua pobreza consistia em deixar o outro ser, respeitar as coisas, a natureza, o homem. Para Francisco ser menor significava ser pequeno para entender a grandeza do outro, seja o outro o homem ou a natureza que o cerca.

            Francisco viveu e fez sua conversão num momento histórico muito turbulento, de muitas mudanças, injustiças, abuso de poder, idolatria, divisões, mudança de sistema social. Mas Francisco não se misturou ao sistema, não se intimidou não se escondeu, Francisco escolheu ser pobre com os pobres, sabia que a consequência de sua opção significava a cruz, mas escolheu abraçar a cruz com alegria.

            A missão de todo cristão é semear esperança no mundo, levar ao mundo o Deus da esperança (Rm 15,13), e nós franciscanos escolhemos viver esta missão em sua radicalidade. Compartilhando a dor conseguimos superá-la, tendo compaixão nos aproximamos do irmão e nos tornamos mais humanos.

            Perdão e abandono são duas palavras que devem nos acompanhar nesta quaresma, porque são as palavras chaves da paixão de Cristo. O Perdão renova e traz esperança de vida, demonstra fé no irmão. E o abandono significa a confiança total no Deus da esperança, colocar-se nos braços de Deus e deixar que ele mostre o melhor caminho.

          
caminha com alegria
pela estrada do calvário” (V.G). Quando abraçamos a cruz somos agraciados com a verdade escondida neste mistério, pois a cruz pode ser instrumento de redenção e dignidade se a acolhemos com alegria como consequência do amor de Deus pela humanidade.

            Madre Inês da Imaculada nos recorda que o “Nosso lugar é aos pés da cruz”, por isso acolhamos com alegria este tempo quaresmal, o vivamos intensamente e com fidelidade nos coloquemos aos pés da cruz, em pé, como Maria. Sofrendo com paciência as demoras de Deus, sendo instrumentos de consolação para todos aqueles que nos procuram buscando uma palavra de conforto.

            Sejamos construtores e promotores de paz, e cuidemos do nosso planeta, defendendo a vida lá onde ela é mais ferida.  Deus é Pai de infinita bondade nos consola, nos protege nos salva. Confiemos nosso caminho de conversão ao olhar materno de Maria, que ela nos ensine a abraçar a cruz e caminhar com alegria pela estrada do calvário.

Bom caminho de QUARESMA a todos, renovemos nosso amor no abraço misericordioso de Deus Pai.

Fraternalmente,

Ir. Virginia Matias Homem – Superiora Provincial


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